28/01/13
O mundo não tem culpa de eu morar sozinho e em paz, pagando
minhas contas, sem nunca ter roubado uma bolacha de um super-mercado ou ter
feito mal a alguém deliberadamente.
O mundo não tem culpa de eu ter passado o domingo em casa e
perdido horas, perplexo frente a um aparelho de Televisão, vendo cenas
horríveis de pessoas em desespero, de corpos estirados na rua como se fôssemos
um país em guerra.
Mas caramba, ligar o rádio nesta manhã, e ouvir um
exacerbador de mazelas sociais, que só por ter acesso a um microfone para
milhões de ouvintes incautos, se acha no direito de esbravejar suas arengas na
pretensa catarse da impotência de milhões de pessoas traumatizadas pela
tragédia em Sta Maria, convenhamos que não é uma forma agradável de começar a
semana.
Arenga 1 - :“Uma tragédia como aquela não tem uma única
origem, mas sim uma sucessão de pequenas origens”....Sim, de fato o resultado
monstruoso do acontecido teve uma sucessão de origens: O uso de artefato
pirotécnico em local indevido – (o teto do estabelecimento de pé-direito baixo);
seguranças do estabelecimento que, no início da correria, impediam a turma de fugir do local por acharem
que estavam querendo sair sem pagar a comanda de consumo; os corredores
estabelecidos por “corrimões” instalados para controle da entrada e saída, que
impediam o fluxo rápido de pessoas em fuga; extintores que não funcionaram e
por aí afora.
Porém, as inúmeras fotos do interior do estabelecimento,
mostram que o (estreito) espaço da discoteca, quando muito, devia ser usado por
uma lanchonete, um restaurante todo aberto ou uma loja; jamais uma “Casa de
Show” fechada, sem (nenhuma outra saída de emergência). Logo, a sucessão de
fatos que resultaram na tragédia (tem sim uma única origem): A concessão dada
pela Prefeitura do “alvará” de estabelecimento de um “negócio” em local
indevido. Culpa do Estado.
Arenga 2 - : “A “Banda” devia ser linchada e o dono do
estabelecimento também, ambos em pça. pública”...Sim, a “Banda” teve culpa, mas
ela estava acostumada a usar de efeitos pirotécnicos em todos o seus shows. O
ego inflamado dos componentes não estavam nem aí para a altura do teto, se ele
era forrado de isopor ou não. No auge do show, o clima bombando, um dos
integrantes achou que era a hora dos efeitos pirotécnicos e não pensou mais em
nada. Foi o início do horror. O sanfoneiro da “Banda” consta da lista de 232
mortos.
Já o proprietário, ou o sócio que contratou a “Banda”, devia
ter avisado da altura do teto e de que era revestido de isopor, altamente
inflamável. Mas, a ganância do capitalismo desenfreado que norteia o país, onde
tudo é possível para qualquer empreendedor com “bala n’agulha”, fez com que o
estabelecimento capacitado para receber apenas 500 ou 700 clientes no máximo, confinava
em um ambiente sem outra porta de saída de emergência, aproximadamente 1500
pessoas.
Arenga 3 - : “O alvará do corpo de bombeiros estava vencido,
mas como as medidas mínimas de segurança estavam em ordem, foi liberado o
funcionamento da casa. Um alvará vencido não impede o funcionamento da casa”;
disse um Comandante do Corpo de Bombeiros de Porto Alegre.
Arenga 4 - : “Para a Prefeitura, todos os documentos estavam
em ordem, contudo, parece que o alvará do Corpo de Bombeiros estava vencido. A
Prefeitura não sabia disso. Toda a documentação em 2012 estava em ordem”. Assim
falou o Prefeito de Sta Maria, (que nem conhecia o estabelecimento “Discoteca
Kiss). A cidade é pequena, com cerca de 300.000 habitantes, sendo que 20% é de
universitários, das mais de cinco Faculdades estabelecidas na região.
Moral da história: Hoje, segunda-feira, o assunto nas bocas
de milhões de pessoas, é anunciada a prisão temporária de dois integrantes da “Banda”
e de dois sócios da “Kiss”. É a catarse temporária da jurisprudência face a
comoção popular e as estampas nas primeiras páginas dos principais jornais do
mundo.
E assim a pequena cidade entrou no mapa mundi midiático:
Sta. Maria, tragédia de uma só porta.
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