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terça-feira, 1 de março de 2011

O longo prazo - Opinião - DN

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Por ADRIANO MOREIRA

O presidente da Assembleia Geral da ONU, que no ano que findou teve uma intervenção destacada sobre a situação mundial e as responsabilidades da organização, fez da reforma do Conselho de Segurança um objectivo urgente e fundamental, referindo-se em segundo lugar às questões institucionais que, nesta sessão que vai correr, têm de ser examinadas, designadamente as tarefas do Conselho de Direitos Humanos e da Comissão de Consolidação da Paz.

Não obstante a estrutura e dignidade desta intervenção de Joseph Deise, a primeira nota importante do responsável pelas intervenções no terreno, que é o secretário-geral Ban Ki-moon, é que a condição básica para que os "grandes objectivos" do mundo sejam alcançáveis, é que a comunidade internacional se una, tendo a ONU por referência, no sentido de obter um futuro melhor partilhado por todas as áreas culturais e políticas.

É evidente que as áreas dos desencontros são por vezes esperançosamente referidas como "as forças que nos dividiram", mas manter a recomendação ligada ao presente das inquietações mundiais parece mais realista. O realismo do Dia da Nações Unidas, que foi celebrado em 24 de Outubro último, parece mais eloquente quanto aos desafios que até agora ultrapassaram todos os esforços, os sacrifícios e as esperanças que o tempo fez por corroer em vez de consolidar.

A urgência, e também a crescente dificuldade, de proteger as populações que são vítimas passivas dos conflitos, tantas vezes entregues à deplorável privatização da guerra, a crescente dificuldade de controlar a dispersão das armas nucleares, o apelo aos recursos necessários para tornar efectivos os Objectivos do Milénio, nada ajuda no sentido de fazer crescer a esperança. Sobretudo quando no mesmo contexto se reconhece que a ONU e a Europa precisam de assumir que são aliados naturais na luta contra a pobreza, justamente quando a fronteira da pobreza vai abrangendo território e populações europeias.

Foi no Parlamento Europeu que o secretário-geral da ONU observou que "têm sido efectuados progressos significativos contra a pobreza extrema e a fome, mas que os resultados têm sido desiguais e, entretanto, as conversações mundiais sobre comércio estagnaram, uma situação que permite que se mantenham subvenções prejudiciais e um regime injusto, que nega aos países em desenvolvimento novas oportunidades, enquanto o aumento dos preços está a pôr medicamentos essenciais fora do alcance de muitas das pessoas mais necessitadas".

Depois de passarmos o milénio, o facto grave, e que nenhuma semântica pode amenizar, é que a unidade dos Estados e povos, reclamada pelo secretário-geral, continua em situação de projecto e intenção, e que a realização dos Objectivos do Milénio, sobressaindo a paz, a fome, e a doença, não dá mostras de viabilidade em face de uma global crise económica e financeira. Infelizmente, a festa popular, que celebrou o Dia das Nações Unidas na Grand-Place de Bruxelas, com a proclamada "ajuda divina porque, durante algumas horas, não choveu", não chega para amenizar as calamidades humanas que a falta de unidade dos Estados, e também dos recursos que deveriam ter presentes nos seus orçamentos, continuam a deixar progredir sem respostas úteis, nem da revolta nem do apelo à transcendência.

É natural que as migrações de populações desesperadas se acentuem, não apenas pela fuga a convulsões políticas e sociais, mas também pela crescente hostilidade das alterações climáticas em relação às quais a Conferência da ONU, realizada em Cancun, sem anunciar um total fracasso, todavia dividiu as questões entre as que podem ser já enfrentadas, e não são exageradas, e as que terão de esperar incluídas numa visão de longo prazo.

Existem conclusões muito negativas sobre o "longo prazo" para todos os desafios, mas não existem dúvidas sérias sobre que os pressupostos da reforma da ONU, e da unidade de esforços dos Estados para a conjuntura, são urgentes e não devem ser relegados para o longo prazO.

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