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domingo, 19 de dezembro de 2010

NÃO É A GUERRA, PORÉM ESTAMOS LÁ NA FRENTE

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A intenção da tradução livre do texto abaixo, do “El País”, para os que tenham alguma dificuldade com o idioma espanhol, é mostrar as preocupações do meio jornalísticos, particularmente de um diretor de um grande jornal da Europa, quanto as repercussões do Wikileaks não só nos EUA como em todos os governos dos outros países. Interessante.
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NÃO É A GUERRA, PORÉM ESTAMOS LÁ NA FRENTE.

Por Lluís Bassets – Diretor adjunto do El País e editorialista.

http://blogs.elpais.com/lluis_bassets/2010/12/no-es-la-guerra-pero-estamos-en-el-frente.html#more


Não é a primeira guerra guerra digital. Nas guerras há mortos e feridos. Há sangue. Nesta por enquanto só há presos. Nas guerras cibernéticas a ação militar será a de parar infra-estruturas de um país com ataques a suas redes de computadores, sem a necessidade de bombardeios. O que temos visto até agora não são mais que exercícios de simulação sem baixas físicas e sem ocupações territoriais.

Não é uma guerra mundial, mas nos afeta a todos. Os cabogramas violados falam de nossos bancos e empresas energéticas, nossos governos e políticos, nossos empresários dominados impiedosamente pela superpotência. Nos mostram o poder melindroso e por vezes vergonhoso da diplomacia. Nos marcam um ponto estratégico em nosso bairro: uma fábrica de produtos hemoderivados. Nos ensinam sobre os perigos do terrorismo, o narco-tráfico, as máfias que atuam em nossas cidades e em nossas costas marítimas. Barcelona, capital da delinqüência no mediterrâneo; no entanto não temos publicado nem 1% dos cabogramas.

Tal acúmulo de informações é de grande interesse aos jornais e aos jornalistas que possuem acesso direto e exclusivo a fonte. Porém é também uma denúncia da baixa qualidade do jornalismo e da sua submissão aos poderes estabelecidos, e de fato, as fontes e intoxicações oficiais. No índice dos cabogramas publicados está a lista dos nossos pecados coletivos: Os “hilos” que temos seguidos, os conflitos que esquecemos, as suspeitas que descartamos, as fontes que nos apegamos e o conformismo com que temos enfrentado tantas e tantas pistas, indícios e faros que nos tem chegado.

Não voltará a acontecer; (tal vazamento). Pode ser. Ao menos de momento e por um bom tempo. Não por causa dos jornalistas. Disso se encarregarão os governos. Há uma solidariedade clubista transversal entre as ideologias e sistemas. Gostam de trabalhar a sós e tranqüilos, enquanto mantém os cidadão às escuras. Agora haverá uma inversão universal de esforços, regulamentos, secretos, para voltarem a selar os segredos. A essa nova conjuntura irão aderir as frágeis democracias e mais a dura China.

Porém o Wikileaks não será um breve episódio azul num céu de grandes e densas nuvens. Primeiro porque a Mina descoberta apenas mostrou os primeiros ganhos, mas que promete muitos mais. Em segundo, porque após esgotada, ficará o caminho que outros desbravadores poderão seguir, com a ajuda da tecnologia e da globalização. O veio não se estreitará, ao contrário. Como tem revelado a crisi, o mundo global não é só economia e crescimento. Além do que as vantagens não são unilaterais, os inconvenientes também se repartem. Agora o sabem os que fabricam segredos e os que guardam.

O que faz Wikiliakes não é por si só jornalismo, porque precisa do jornalismo convencional para obter sua grande dimensão pública. Porém é a expressão livre como tem entendido até agora o Tribunal Supremo dos Estados Unidos a partir da Primeira Emenda da Constituição. Recordemos essas poucas palavras transcendentais do jornalismo livre: O Congresso não poderá fazer nenhuma lei que restrinja a liberdade da palavra ou da Imprensa.
Anthony Lewis em seu excelente livro, essencial em nossos dias, merecedor do prêmio Pulitzer, “Uma Biografia da Primeira Emenda”, nos alerta: “Ocorreu algo nas primeiras quinze palavras da cláusula sobre a livre expressão da imprensa. O conteúdo do significado foi modificado. Ou mais precisamente, a compreensão das palavras tem sido modificada; por parte dos juízes e por parte do público”.

Esta é a batalha que nos interessa. Nela se joga o futuro. O último cabograma do Wikileaks trata de uma decisão da instancia máxima jurídica norte-americana, onde se espera a confirmação de que a jurisprudência do país, mantenha sob o manto da Primeira Emenda as formas de comunicação da Internet, e não atreladas a controles do Estado.

Não é uma cyber guerra, mas é um importante e vital combate jurídico onde está em jogo a liberdade de expressão e o jornalismo livre.

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