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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

UMA BELA FÁBULA PARA OS POLÍTICOS!

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“FÁBULAS DE CALVINO, ÍTALO”

CORPO SEM ALMA

Havia uma viúva com um filho que se chamava Joanorzim. Aos treze anos ele queria sair pelo mundo para fazer fortuna. Sua mãe lhe disse:
---O que você quer fazer pelo mundo afora? Não vê que é pequeno ainda? Quando você for capaz de derrubar com um ponta pé aquele pinheiro atrás da casa, então pode partir.
Desde aquele dia, todas as manhãs, assim que se levantava , Joanorzim tomava impulso e pulava de ´pés juntos contra o tronco do pinheiro. A árvore nem se mexia e ele caía estendido no chão. Erguia-se sacudia a terra e voltava para seu cantinho.
Finalmente, uma bela manhã pulou contra a árvore com todas as suas forças e a árvore foi se inclinando, se inclinando, as raízes saíram da terra e ela se deixou abater. Joanorzim correu para chamar a mãe, que veio ver, observou bem e disse:
---Agora, meu filho, você pode ir para onde quiser.
Joanorzim se despediu e se pôs a caminho.

Depois de andar durante dias chegou a uma cidade. O Rei daquela cidade tinha um cavalo chamado Rondó que ninguém era capaz de montar. Todos os que experimentavam no primeiro momento tinham a impressão de ter conseguido, mas depois caíam. Joanorzim ficou por ali olhando, e percebeu que o cavalo tinha medo da própria sombra. Ofereceu-se então para domar o Rondó. Aproximou-se dele na estrebaria, chamou-o, acariciou-o, de repente, pulou na sela e o levou para fora, mantendo-lhe o focinho contra o sol. O cavalo não via a própria sombra e não se assustava; joanorzim o apertou com os joelhos, puxou a rédea e partiu ba galope. Após um quarto de hora estava domado, obediente como um cordeiro, mas só se deixava montar por Joanorzim.
A partir daquele dia, o Rei contratou Joanorzim e lhe queria tanto que os outros empregados começaram a se roer d inveja. E se puseram a pensar como poderiam se desembaraçar dele.
É importante saber que aquele rei tinha uma filha que anos antes fora seqüestrada pelo mago Corpo-sem-alma, e ninguém sabia mais dela. Os servos foram dizer ao rei que Joanorzim se vangloriava em público de que iria libertá-la. O rei mandou chamá-lo; Joanorzim caiu das nuvens e afirmou que não sabia de nada. Mas o rei, que só de pensar que alguém pudesse brincar com aquele cassunto, perdia o brilho dos olhos, disse-lhe:
---ou você a liberta ou mando cortar sua cabeça!
Joanorzim, visto que não havia jeito de se fazer ouvir, pediu uma espada enferrujada que mantinham pendurada numa parede, selou o Rondó e partiu. Ao atravessar um bosque, viu num leão que lhe fez sinal de parar. Joanorzim tinha certo receio do leão, mas nem pensava em fugir; assim, desceu da sela e lhe perguntou o que desejava.
---Joanorzim – disse o leão - aqui somos quatro: eu, um cão, uma águia e uma formiga; temos este burro morto para dividir; você tem a espada, faça a divisão e entregue uma parte para cada um!

Joanorzim cortou a cabeça do burro e entregou à formiga:
---Tome, pois vai lhe servir de casa e dentro encontrará quanta comida quiser. A seguir cortou as patas e as entregou ao cachorro: Aqui você tem para roer até enjoar! Arrancou as tripas e as deu para a águia: Isso é para você, até dá para levar pro alto das árvores onde vier a pousar.
Todo o resto ofereceu ao leão, que era o maior dos quatro e a ele cabia mais. Voltou a montar e estava para retomar o caminho quando ouviu que o chamavam. “Ai”, pensou, “não fiz a divisão com justiça”! O leão, porém, disse-lhe:
---Você foi um bom juíz e nos serviu bem. O que podemos lhe dar em sinal de reconhecimento? Eis uma das minhas garras, quando a usar, você se tornará o leão mais feroz que existe no mundo.
E o cão:
---Aqui está um dos meus bigodes; quando o puser sob o nariz, você se tornará o cão mais veloz que já se viu.
E a águia:
---Eis uma pena das minhas asas; poderá se tornar a maior e a mais forte águia a voar nos céus.
E a formiga:
---E eu lhe dou uma das minhas patinhas, e quando a usar você se tornará uma formiguinha, mas tão pequena, tão miudinha que não será visível nem com lentes de aumento.

Joanorzim pegou todos os presentes, agradeceu aos quatro animais e partiu.
Ainda não sabia se acreditava ou não nas virtudes das oferendas, porque era
possível que estivessem zombando dele. Mas, tão longe se viu longe deles,
parou e fez a prova. Tornou-se leão, cão, águia, formiga, e depois formiga,
leão, cão, leão, e depois, águia, formiga, leão, cão, e depois cão, formiga,
formiga, leão, águia, e se convenceu de que funcionava bem.Todo contente
retomou o caminho.
Depois de um bosque, havia um lago, e sobre o lago um castelo. Era o castelo
do mago Corpo Sem Alma. Joanorzim se transformou em águia e voou até o
peitoril de uma janela fechada. Depois se transformou numa formiga e
penetrou no aposento através de uma fresta. Era um belo quarto, e sob um
baldaquim dormia a filha do rei. Joanorzim sempre formiga, começou a
passear numa das bochechas dela até que a moça despertou. Então Joanorzim
tirou a pata da formiga e a filha do rei sew viu de repente ao lado de um belo
jovem.
---Não tenha medo – disse-lhe fazendo sinal para ela se calar – vim libertá-la!
É preciso que você saiba do mago como se faz para mata-lo.

Quando o mago vltou, Joanorzim se transformou de novo em formiga.A filha do rei acolheu o mago com mil dengos, fez com que ele se sentasse aos seuws pés, fez com que pousasse a cabeça em seus joelhos. E começou a lhe dizer:
---Meu caro mago, sei que você é um corpo sem alma e, portanto, não pode
morrer. Mas sempre tenho medo de que descubram onde você esconde sua
alma e consigam mata-lo, por isso estou preocupada.
Ao que o mago respondeu:
---A você posso contar, já que está presa aqui dentro e não pode me trair. Para
acabar comigo seria necessário um leão tão forte que matasse o leão negro
que está no bosque; morto o leão, de sua barriga sairá um cão negro tão veloz
que para alcançá-lo seria preciso o cão mais veloz do mundo. Morto o cão
negro, de seu ventre sairá uma águia negra que não sei qual águia ousaria
desafiá-la. Mas se também a águia negra fosse morta, seria preciso retirar-lhe
do ventre um ovo negro, e este ovo, quebrá-lo na minha testa para que minha
alma voasse e eu morresse. Parece-lhe fácil? Parece-lhe caso de ficar
preocupada?

Joanorzim, com sua orelhinhas de formiga, tudo ouvia, e com seus passinhos
saiu da fresta, voltando ao peitoril da janela. Ali transmutou-se novamente em
águia e voou para o bosque. No bosque transformou-se em leão e começou a
circular entre as plantas até encontrar o leão negro. O leão negro se lançou
sobre ele, mas Joanorzim era o leão mais forte do mundo e o destroçou. (No
castelo, o mago sentiu a cabeça girar.) aberta a barriga do leão, pulou fora um
cão negro velocíssimo, mas Joanorzim se transformou no cão mais veloz do
mundo e o alcançou, e rolaram juntos, mordendo-se, até que o cão negro ficou
morto no chão. (No castelo, o mago teve de ir para a cama). Aberta a barriga
do cão, escapou uma águia negra, mas Joanorzim se transformou na
maior águia do mundo e juntas começaram a girar pelos ares, trocando
bicadas e golpes de garras, até que a águia negra fechou as asas e caiu
no chão. (No castelo, o mago tinha uma febre de cavalo e estava
encolhido debaixo das cobertas).
Joanorzim, homem outra vez, abriu a barriga da águia e ali encontrou o ovo
negro. Foi ao castelo e o entregou à filha do rei toda contente.

---Mas como você conseguiu? – ela lhe perguntou.
---Foi simples – respondeu Joanorzim – Agora é sua vez.
A filha do rei foi ao quarto do mago.
---Como está?
---Ai, pobre de mim, alguém me traiu...
---Trouxe-lhe uma tigela sopa. Tome.
O mago se sentou na cama e se inclinou para tomar a sopa.
---Espere um pouco que abro um ovo e ponho na sopa, para ficar mais
substanciosa.
E assim dizendo, a filha do rei lhe quebrou o ovo negro na testa. O mago
Corpo-Sem-Alma morreu na mesma hora.
Para imensa alegria de todos, Joanorzim devolveu ao rei sua filha, e o rei logo
lhe concedeu a moça como esposa.

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Está bela fábula do jornalista e escritor italiano “Ítalo Calvino” – 1923/1925; Edt. Cia. das
nos ensina o quanto é importante saber dividir uma riqueza entre
desiguais, dando a cada um segundo suas necessidades aquilo de que
ele realmente precisa e que lhe será útil e proveitoso. Um belo ensinamento
para políticos e governantes.

"Fábulas Italianas" de "Calvino, Ítalo"
Tradução de "Nilson Moulin"
Edit. "Cia Das Letras"


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Um comentário:

Unknown disse...

Quem é o protagonista?antagonista? Ajudante? E os figurantes do texto?