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sábado, 16 de maio de 2009

OS " SÁBIOS" DO BOTECO DA DONA ZULMIRA

Todas as noites eles aparecem, com seus rostos cansados, barbas por fazer, se cumprimentam, trocam antigas gozações e logo a “santa”Dna.Zulmira se põe a servi-los.

E logo o burburinho é geral, e o efeito das doses do licor da sabedoria se faz presente. E o artista em funilaria, com sua vasta cabeleira branca, rosto largo, marcado pelo tempo, lembra da “...insanidade que reina entre judeus e palestinos...”, ao que um outro "Sábio"; este mais alto e também de compleição robusta, recém vindo do interior do país; ao comentar a falta de diálogo entre esses povos, como que iluminado pede a palavra:

----“Deixa eu falar uma coisa pra vocês, o diálogo sempre existe, desde que eu toque a música e você dance. Quanto as demais palavras , leva-as o vento.” .....Por uns bons segundos o silêncio foi geral.

Mas logo o burburinho se impôs e comentários sobre radicalização, culpa das religiões, direitos dos judeus, a condição de antigos nativos dos palestinos, se tornaram o tema de pares que discutiam. Um querendo convencer o outro de que as informações que tinha eram mais corretas ou mais recentes, outros se aventurando em lembranças históricas.
Eu fazia parte dos que entendiam que, a doação do território habitado por séculos pelos palestinos, não podia ter sido feita como foi pelo Conselho das outras nações.

A não menos "Sábia" Dna. Zulmira, vendo o tom do burburinho subir além do razoável, com receio dos vizinhos, logo falou:
----Gente, vamos parar com tanta discussão, quero saber quem vai no dominó?
Pronto, foi o suficiente. Um que já estava perto da mesa já foi sentando numa das cadeiras e logo já tinha os quatro. Outros se dirigiam para a mesa mais ao fundo. Como eu já estava “meio alegre” nem me atrevi a disputar cadeira nenhuma, dirigi-me a porta a fim de respirar o ar da noite e ver o movimento da rua e apreciar o desfile de uma “tremenda gostosa” que passava. Sim porque uma morena como aquela não anda, desfila.

Passado mais de três horas, alguns dos sábios já tinham ido embora pra suas casas. Eu estava num papo sôbre as enchentes no nordeste com o "Sábio" Bertino, ele que era da região e com quem eu já tinha certa amizade, e já tendo tomado umas duas garrafas de cerveja, mais umas três doses do néctar destilado da Dna. Zulmira me aventurava em eloqüente indignação:

---- Quando vejo a forma dramática e criminosa de como a miséria campeia no nordeste fico a pensar, porque esse povo não pega nas armas? Respondeu o "Sábio" Bertino:
---- Porque outros piores já pegaram.

Fiquei mudo. Ele sorrindo olhava para mim e levantava os ombros como a dizer: “Simples assim”.
Nem sei porque, mas, acabei me despedindo e vim embora pra casa. Tem noites que os "Sábios" do Boteco da Dna. Zulmira são de uma concisão irritante.

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