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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Sociedade do Espetáculo - Guy Debord (1973) - 1 de 9

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--Diálogos traduzidos para quem quizer ler com atenção ao que "Guy Debord" disse em seu filme magistral.

Uma magistral equação da vida do ser humano após a 2ªGuerra Mundial, onde os modernos meios de produção fizeram o homem a viver do consumo da mercadoria, e mais ainda a adorar a imagem da mercadoria, ao que ele chama de "Sociedade do Espetáculo".

Vale a pena ler com calma e atenção, para se perceber toda a dimensão do que falava o grande pensador francês.

(LEMBRANDO QUE ESTE VÌDEO È APENAS 1 DE UMA SÈRIE DE 9).

"SOCIEDADE DO ESPETÀCULO" - Vídeo 1 - Diálogos tirados da tradução do filme:
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“Como cada sentimento particular é apenas parte da vida e não a vida em sua totalidade,
A vida lateja em completa multiplicação dos sentimentos, como que redescobrindo a si mesma em toda sua diversidade.

No amor o separado ainda existe, mas existe dentro do conjunto, não fora dele: um reencontro entre vivos...”.



Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção, se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos.

Tudo que era diretamente vivido se afastou numa representação.

As imagens que se desligaram de cada aspecto da vida, fundem-se num curso comum, onde a unidade desta vida já não pode ser restabelecida.

A realidade considerada parcialmente desdobra-se na sua própria unidade geral enquanto pseudo mundo aparte, objeto de exclusiva contemplação.

A especialização das imagens no mundo encontra-se realizada no mundo da imagem autonomizada, onde o mentiroso mentiu a si próprio.

O espetáculo em geral, como inversão concreta da vida, é o movimento autônomo do não vivo.

O espetáculo apresenta-se ao mesmo tempo como a própria sociedade, como uma parte da sociedade, e como instrumento de unificação.

Enquanto parte da sociedade, ele é expressamente o setor que concentra todo o olhar e toda a consciência.

Pelo próprio fato desse setor ser separado, ele é o olhar do lugar iludido e da falsa consciência, e a unificação que realiza não é outra coisa que senão a linguagem oficial da separação generalizada.

“Deliberando de uma forma conclusiva e aceitando-os como positivos, deixo claro que ainda há muito a ser feito”. (Fala um homem no filme) e segue o narrador:
O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre as pessoas, mediada por imagens.

O espetáculo compreendido na sua totalidade, é ao mesmo tempo o resultado e o projeto do modo de produção existente.

Ele não é um suplemento ao mundo real, uma decoração adicionada. É o coração da irrealidade da sociedade real.

Sob todas as suas formas particulares, informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos, o espetáculo constitui o modelo presente da vida socialmente dominante.

Ele é a afirmação onipresente da escolha já feita na produção, e o consumo que decorre dessa escolha.

A própria separação faz parte da unidade do mundo, da práxis social global que se cindiu em realidade e imagem.

A prática social, a qual se põe o espetáculo autônomo, é também a totalidade real que contém o espetáculo.

Mas a cisão nesta totalidade a mutila a ponto de fazer aparecer o espetáculo como sua finalidade.

No mundo realmente invertido, o verdadeiro é um movimento do falso.

Considerado segundo seus próprios termos, o espetáculo é a afirmação da aparência e a afirmação de toda a vida humana, isto é, social, como simples aparência.

Mas a crítica que atinge a verdade do espetáculo o descobre como a negação visível da vida; como uma negação da vida que se tornou visível.

O espetáculo apresenta-se como uma enorme positividade indivisível e inacessível.

Ele nada mais diz senão que “o que aparece é bom, o que é bom aparece”.

A atitude que ele exige por princípio é essa aceitação passiva, que na verdade, ele já obteve pela sua maneira de aparecer sem réplica, pelo seu monopólio da aparência.

O espetáculo submete homens vivos, na medida em que a economia já os submeteu totalmente.

Ele não é nada mais que a economia desenvolvendo-se para si mesma.
É o reflexo fiel da reprodução das coisas, e objetivação infiel dos produtores.
Lá onde o mundo real se converte em simples imagens, as simples imagens tornam-se seres reais e motivações inconscientes de um comportamento hipnótico.

À medida que a necessidade se encontra socialmente sonhada, o sonho torna-se necessário.
O espetáculo é o mal sonho da sociedade moderna acorrentada, que não exprime senão o seu desejo de dormir.

O espetáculo é o guardião deste sonho.
O fato de o poder prático da sociedade moderna ter se desligado dela, e ter edificado para si um império independente no espetáculo, não se pode explicar senão pelo fato de esta prática poderosa continuar a ter a falta de coesão e permanecer em contradição consigo mesma.

Á a especialização do poder, a mais velha especialização social, que está na raiz do espetáculo.

O espetáculo é assim, uma atividade especializada que fala pelo conjunto das outras.
É a representação diplomática da sociedade hierárquica diante de si mesma, onde qualquer outra palavra é banida.

O mais moderno é também aí o mais arcaico.

A cisão generalizada do espetáculo é inseparável do Estado moderno, isto é da forma geral da cisão na sociedade, produto da divisão do trabalho social e órgão da dominação de classe.

No espetáculo uma parte do mundo representa-se perante o mundo, e lhe é superior.
O espetáculo não mais do que a linguagem comum dessa separação.

O que une os espectadores não é mais do que uma relação irreversível no próprio centro que mantém seu isolamento.

O espetáculo reúne o separado, mas reúne-o enquanto separado.

O trabalhador não se produz a si próprio, ele produz um poder independente.

O sucesso de sua produção é sua abundancia, regressa ao produtor como abundancia da despossessão.

Todo o tempo e o espaço de seu mundo tornam-se estranhos para ele, com a acumulação dos seu produtos alienados.

As próprias forças que nos escapam mostram-se a nós em todo seu poderio.
O homem separado do seu produto produz cada vez mais, poderosamente, todos os detalhes do seu mundo e assim encontra-se cada vez mais separado do seu mundo.

Quanto mais sua vida é agora seu produto, tanto mais ele está separado de sua vida.
O espetáculo é o capital a um tal grau de acumulação que se torna imagem.”.

Fantástico! O pensador e cinegrafista “Guy Debord”, conseguiu colocar em ordem explicativa, uma teoria mesmo, um tema muito difícil, a saber: A vida como um espetáculo de consumo, onde passamos a viver, não só o consumo da mercadoria, mas a própria imagem dela.
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Guy Debord (Paris, 28 de dezembro de 1931 — 30 de novembro de 1994) foi um escritor francês. Foi um dos pensadores da Internacional Situacionista e da Internacional
Letrista e seus textos foram a base das manifestações do Maio de 68.

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