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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

DESGRAÇAS SOCIAIS

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A dois dias atrás, tratores e Policiais destruíram uma pequena favela de barracos de madeira no bairro Capão Redondo – zona sul de São Paulo, em cumprimento da famigerada “reintegração de posse”.

Nos humildes barracos, residiam mais de 800 pessoas. Famílias, com crianças, idosos, todos foram expulsos numa manhã, num frio impiedoso e debaixo de chuva.
As poucas cenas que vi na TV, já me deixaram tão revoltado e com tanto ódio na mente que logo a desliguei.

Como um (FDP) de um Juiz, assina uma reintegração de posse, debaixo de chuva e num dos piores invernos da Capital nos últimos 30 anos??
Famílias ficaram nas ruas próximas, com seus filhos debaixo da garoa fria e muitas passaram a noite inteira por ali, pois eram pessoas que não tinham nem parentes onde pudessem se abrigar.

A favela existia na área a mais de três anos. Segundo alegam, o terreno pertence a uma das maiores Companhias de Ônibus da zona sul, a “Viação Campo Limpo”.

A mídia de Sampa, ah! essa mídia, se limitou a acompanhar as cenas dramáticas com um dos seus arautos defendendo com unhas e dentes a violência policial contra os moradores revoltados.
Bombas de gáz lacrimogênio e “balas de borracha” eram disparadas a esmo contra os moradores. Homens, mulheres, idosos e crianças.

Um fotógrafo veio a uma Rádio para dar uma entrevista de como tinha conseguido tirar uma foto dramática de uma mãe com a filhinha no colo correndo das ações repressivas da polícia. O orgulhoso repórter discorreu sobre como gosta de captar os instantes, que foto é emoção, e essas coisas que todo fotógrafo gosta de falar.

Um radialista, ao entrevistar um representante da jurisprudência paulistana, com toda cautela e educação característica, fez a “ousada” pergunta:
“---- Dr. Fulano de tal, sei que a polícia não tem culpa nenhuma, está ali cumprindo ordens, mas não era o caso dessa reintegração de posse ter sido feita num dia mais aprazível...sabe como é, estamos no inverno. Não dava pra fazer com um tempo melhor?”
Respondeu o representante da jurisprudência paulistana:
“---- Caro Sicrano, antes de mais nada é um prazer estar falando com você e os ouvintes dessa conceituada emissora. De fato, estamos num inverno muito duro, mas a reintegração de posse estava assinada e uma vez assinada ela tinha de ser cumprida. Não tínhamos outro jeito. O proprietário do terreno aguardava o cumprimento da lei.”

Um famoso “âncora” desses programas que fazem apologia da filosofia policialesca repressiva ao crime e a distúrbios da lei e da ordem, bradava com seu vozeirão, narrando cenas deprimentes e revoltantes, comuns em tais ocasiões, fruto de políticas que não conseguem ou não querem resolver problemas sociais graves que afetam as bases da sociedade.
Dizia o famoso “âncora”; que ganha verdadeira fortuna vendendo o grave timbre da sua voz, do alto de uma tribuna ouvida por milhares de ouvidos complacentes, a exacerbar e tripudiar sobre as mazelas humanas:
“----- ...devemos entender que a polícia está ali cumprindo ordens superiores, que não tem culpa nenhuma...são pessoas que não tem nada na vida...gente que não tem porcaria nenhuma na vida...olhem o cenário...cenário de guerra...é uma guerra...”. E por aí afora...

A esse “âncora” tenho a dizer o seguinte: Não é uma guerra não, é apenas uma resistência de pobres que sabem que estão sendo jogados na rua, debaixo de chuva e frio! Não é uma guerra! Eles não tem as armas! Eles não tem organização. Não tem táticas. A guerra deles é pelo prato de comida do dia. O leite dos filhos, quando conseguem. Números anônimos nas estatísticas. Lutam contra quem lhes quer criar mais sofrimento e humilhação do que suportam em seus cotidianos.
Como o Sr. diz: “É gente que não tem porcaria nenhuma na vida.”
No entanto, estão cercados de riqueza e luxo. Sim, de riqueza e luxo, porque a casa vizinha a favela de barracos madeira, por modesta que seja em comparação a do SR. para eles já é um luxo.


Mas “essa gente” “Sr âncora”, enganada por salafrários, PAGOU pelos barracos ou pelos micro lotes onde construiu suas cabanas!
A pequena favela não surgiu do dia pra noite. Aquele terreno, com certeza não devia estar murado e nem cercado. Devia ser o que normalmente chamamos de terreno baldio.
Como um proprietário de um grande terreno deixa sua área abandonada a quem quiser entrar?? Um empresário de uma grande Companhia de ônibus urbano??

Não é admissível que uma decisão judiciária, três anos depois do início da construção da favela, venha desalojar mais de 800 pessoas, debaixo de chuva e um frio cruel, sem que o governo tenha outro lugar para abrigá-los!

E não procede o argumento das autoridades quando dizem que aquelas pessoas sabiam que iam ser despejadas e já estavam avisadas a tempos atrás.
Pois se até o dia do despejo elas não saíram dali é porque (não encontraram outro lugar para morar.)

Ou será que estavam esperando o despejo para então “gozarem” do frio e da chuva gelada sobre suas cabeças e de seus filhos??
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