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terça-feira, 18 de agosto de 2009

OUTRO BOM ARTIGO DO "PONDÉ"

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Devido a um sonho estúpido e uma vontade de urinar, acordei cedo hoje, 6,00 horas, com o barulho estranho de um carro, ou uma camionete, passando devagar pela rua. Eram os catadores de plástico e materiais recicláveis que passam antes do caminhão do lixo.
Me lembro de ter ouvido também um helicóptero não muito longe, mas que pelo “tempo”demorado do som do motor, devia ser da polícia ajudando companheiros na terra ou de alguma emissora de TV filmando o trânsito em alguma Avenida na região.

Coloquei a água do café pra ferver e fui buscar o jornal na varanda. Ao voltar notei que nem tinha lido o de ontem. Não que a segunda feira tenha sido muito operosa a ponto de não ter tido tempo nem de ler o jornal, ao contrário tempo não faltou, não o li por pura falta de ânimo e de expectativa. A Internet e a mesmice dos assuntos fizeram com que ele ficasse no mesmo lugar onde o tinha deixado na manhã de ontem.
De fato, não agüento mais páginas inteiras dedicadas ao circo de denúncias do Senado e o “diz-que-me-disse” sobre uma funcionária da Receita Federal e a Ministra Dilma.
Escândalos de mau uso do Erário, essa mina de ouro inesgotável que alguns tem acesso, denúncias de superfaturamento em obras públicas, e por aí afora.
Casos de polícia envolvendo médico idoso (!) que se aproveitava de pacientes sedadas, vereadores pedófilos e as mazelas sociais das inchadas e pobres periferias dos grandes centros urbanos do país.
O Jornal vira um relatório diário de abusos e aberrações comportamentais, na maioria das vezes de gente que devia dar bons exemplos mas....

Brecando a prolixidade e entrando enfim no assunto do título, dou com o artigo do bom cronista “Luiz Felipe Pondé”, na “Folha de S.Paulo” 17/08/09, onde ele trata da insensibilidade com que tratamos as relações de antigas amizades que, por inúmeras razões, acabamos por não cultivar.

Começa o artigo ele falando de sua impressão ao rever um antigo amigo de infância, que ao que deu entender, não via há muitos anos. Diz ele:
“ Diante das lembranças compartilhadas, a distância no tempo se impõe como distância no afeto.
Talvez falte em mim algum tipo de afeto duradouro, ou seja, uma dessas pessoas miseravelmente volúveis que esquecem quase tudo com o tempo. Ou talvez pior ainda, eu seja excessivamente preso ao cotidiano e por isso, minhas amizades só sobrevivem no dia a dia.”

( Não consigo evitar o pensamento dele se achar mais que outros que não estejam no mesmo nível do seu ego. E com vergonha reconheço já ter sido dessa maneira.)

Depois, corajosamente reconhece que possui uma certa ingratidão para com as amizades mesmo que sinceras e se confessa um volúvel.
Aí passa a falar de um livro, “ Bartleby o Escrivão” de “Herman Melville”, autor de “Moby Dick”.
Bartleby era um escrivão que a tudo que seu patrão pedia ele sempre respondia: “Prefiro não faze-lo”.

“A recusa sistemática de fazer coisas assim, levando o patrão à loucura e Bartleby à total imobilidade , constrói o personagem como uma indagação contínua ao valor último da ação no mundo.
Abandonado pelo patrão, ele se recusa mesmo a sair da escada do antigo escritório onde está sentado como se aquilo fosse o que restou da sua vida.
Bartley morre num asilo de loucos, paralisado por sua consciência da vaidade dos gestos e da fala, reduzido a falta de ar como forma última de toda ação possível.
Bartley encarna a consciência triste que caminha invisível pelo mundo.”

E termina Pondé seu artigo: “Ó Deus, ajudai-me a não ser tão volúvel e tão insensível para com os amigos já passados.” De uma forma edificante, tão rara nos dias de hoje.

Não concordo com certos artigos dele, mas jamais deixo de reconhecer seu estilo incisivo, psicológico, existencialista religioso beirando o agnóstico, por vezes abusado, porém sempre inteligente.
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